A Fundação Cultural Badesc lança na quarta-feira, dia 18, a partir das 19h30, o livro Batuque bem temperado, de Flávio José Cardozo e Jair Francisco Hamms, publicado pela editora Insular e Academia Catarinense de Letras. São crônicas publicadas em jornais. As do Flávio, no Diário Catarinense, principalmente, e as do Jair, no jornal O Estado e no Jornal de Santa Catarina.Ambos membros da Academia Catarinense de Letras, os dois escritores fizeram uma seleção pessoal, mas um dos pontos fundamentais que une a maioria dos textos é o humor. E o humor é o tom essencial da crônica. O detetive de Florianópolis, de Jair, um dos textos escolhidos. Na narrativa, o personagem principal, ao se ver desempregado, vai exercer a profissão de um detetive bem ao espírito ilhéu, irreverente e gozador.Flávio atribui à crônica um papel de humor, de lirismo e de divertimento. "A crônica é um texto leve, curto, sem maiores pretensões, que muitas vezes faz o papel de chamar mais leitores para a literatura", diz ele.
Dois trechos do livro nos quais um autor fala do outro:
Flávio José Cardozo, na crônica Entrevista com a mulher que o Jair mandou
"Às três e trinta, com apenas hora e meia de atraso, ela chegou. Não era bem como eu a havia imaginado, gordinha e nos seus vinte e dois anos, nem como a imaginou minha mulher, ossuda e com pelo menos cinquenta. Desde que o Jair, sabedor de nossas pretensões, me disse que tinha falado com uma tal de Leocádia e que ela estaria conosco amanhã às duas em ponto para trocar idéias sobre o assunto, ficamos a desenhá-la mentalmente. Minha mulher chegou a vê-la em sonho, vestida de verde e com uma estrela na cabeça. Eu, mais moderado, apenas esperei, confiando que o bom Deus nos dava enfim uma grande oportunidade. E ali estava ela: Dona Leocádia, nem gorda nem magra, quarentas anos prováveis, vinte vezes mais feia que bonita, mas nada disso interessava, pois mesmo que estivéssemos diante da suprema feiúra do universo nós a faríamos entrar festivamente.- O Dr. Jair pediu que eu viesse aqui.- O Jair é um santo amigo, poxa"
Jair Francisco Hamms, na crônica Um bombardeiro azul
"Sabes, Flávio, naquele tempo, a gente dizia assim: quando eu for grande, quero ser tal coisa. Variava muito: aviador, bombeiro, médico, sargento da polícia, barbeiro, advogado, chofer de ônibus, professor, sapateiro. Por exemplo: o Chico sonhava ser goleiro do Figueirense; o Dagmar, que era canhoto, queria ser ponta-esquerda do Avaí. Já o Joca, muito esganado, queria ser o dono da Padaria Brasil só para que, dia e noite, enchesse o pandulho de doce, empada, cocada.Era época da guerra. Bombardeios na Inglaterra, bombardeios na Itália, bombardeios na Alemanha. Chovia bombas na Europa. Havia uma revista, chamada Em Guarda − lembras, não é? − que estampava fotos de simpáticos e sorridentes aviadores ianques, vestindo roupas de couro, toucas de couro e com óculos reluzentes. O Xandoca queria ser aviador, Flávio"
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